sábado, 30 de março de 2024

Cordéis

ASSIM NASCEU TABULEIRO DO
NORTE
Autor: Francinilto Almeida

Era o século dezoito
Há muito tempo passado
O Vale Jaguaribano
Era um campo desolado
Muitos pastos, muitas terras,
Da planície até as serras
Quase nenhum povoado.

Existiam muitos [indígenas]
De temperamento hostil
Defendiam suas terras
Quando dez valiam mil
Eram tapuias guerreiros
Dominando os tabuleiros:
Eis um pequeno perfil.

Sustentaram grandes lutas
A coragem era tudo
Que confesse o Capitão
Devastador e graúdo
João de Barros, chamado,
Mesmo sendo um potentado
Sofreu do povo raçudo.

O afamado Capitão
Desbravador pioneiro
Batizou de Quixeré
Belo riacho altaneiro
J. Brígido relata
Sua luta não cordata
Com o povo do Ribeiro.

A Fazenda São José
Aos “Marrecas” pertencia
Transferida para um homem
De distante freguesia:
Era Francisco Alves Maia
E que esse nome não caia
Em narrativa vazia.

No ano sessenta e seis
Do século referido
Começa a povoação
Desse lugar tão querido
Maia Alarcon foi bravio
Dentre todos, desconfio,
Ser ele o mais aguerrido.

Era homem muito ilustre
Do latim um professor.
Sua esposa adoeceu
Dum câncer aterrador.
Ela um dia teve um sonho
Para versos eu transponho
Na lira de trovador.

O seu nome era Luzia
E tinha câncer num seio
No seu sonho alguém dizia
Sem delongas e rodeio
Que ali fosse construída
Uma pequena ermida
E a cura seria o meio.

Essa pequena capela
Teria no seu altar
Nossa Senhora das Brotas
Que podia lhe curar.
Mas o marido, sequer,
Embora de muita fé,
Dessa Santa ouviu falar.

Então procurou saber
Dessa Santa o paradeiro.
Eis que Portugal rendia
Invocação e romeiro.
Edificaram capela
E puseram dentro dela
A Santa de Tabuleiro.

Era, pois, ano sessenta
Do século já citado
Tratando-se de janeiro
Um mês muito abençoado
Trouxeram de Portugal
Uma imagem sem igual
A Santa do povoado.

No ano sessenta e oito
Mais uma atitude santa
Desse homem que marcou
Essa terra que me encanta
Maia Alarcon funda escola
Padre Rolim não se enrola
Diretor que não afronta.

Tabuleiro de Areia
Agora tem altivez
Reformam a capelinha
Um cruzeiro aqui se fez
Por obra do Frei Vidal
Um frade descomunal
De fervor e intrepidez.

Foi até noventa e seis
Que o colégio funcionou
Por certo sessenta alunos
Naquele espaço estudou
Maia Alarcon adoece
O povo todo padece
Por isso a escola fechou.

Na capela o enterraram
Com louvores e pesar
Homem culto, generoso,
De talento invulgar
A ele todos devemos
Na certa não esquecemos
Sua força singular.

Temos história também
Do cemitério local
Fundado em setenta e dois
Com pequeno capital
O esforço reconhecido
De um capelão destemido
E caráter colossal.

Seu nome é pra ser lembrado
Pois era de vocação
Apesar do pouco tempo
Aqui nessa região
Trabalhando intensamente
Eis um homem competente:
Padre Joaquim de Aragão.

Vinte de novembro, a data
Do ano já referido
Houve a inauguração
Do campo santo querido
Dom Lino aqui celebrou
E o povo comemorou
Mais um passo garantido.

Quanto à nossa capelinha
Que foi base comovente
Ainda em oitenta e cinco
O vigor daquela gente
Permitiu certa reforma
Uma torre deu-lhe forma
Deixando o povo contente.

Consta também dessa fase
A construção do cruzeiro,
Bem atrás já referido,
Pelo frade pioneiro
Frei Vidal da Penha, o nome,
Que a memória não consome
Por se tratar de um guerreiro.

Nossa capela obteve
Algo assim especial
Por ter o seu Tabernáculo
De modo fenomenal
Tivemos grande evento:
“Santíssimo Sacramento”
De uma ação episcopal.

Veio segunda reforma:
Esta foi em vinte e um.
Já era o século vinte
E muita força em comum.
Foi Padre Acelino Arraes
Num empenho contumaz
Sem medir esforço algum.

Houve também a terceira:
Esta foi mais demorada.
Demandou muitos esforços
Em quarenta começada.
Mas só em cinqüenta e oito,
Assim se somam dezoito,
Pra obra ser terminada.

Foi o Monsenhor Otávio
Quem comandou este feito
Pois transformou a capela
Em templo de grande efeito
Com moderna arquitetura
Até hoje ele perdura:
Majestoso e sem defeito.

Aqui permitam que eu faça
Uma homenagem singela
A quem fez por merecer
Deixando marca tão bela.
Mesmo nascido em Viçosa
Deixou lição valorosa
Sem rebuço e sem querela.

Monsenhor Otávio teve
Um trabalho desmedido.
Desde o ano trinta e oito,
Sessenta e um, transferido,
O seu nome deve estar
Na pauta do meu lembrar:
Eis um povo agradecido.

Muitas denominações
Tabuleiro sustentou.
De Fazenda São José
Aí tudo começou.
Joaquim Távora, também,
Essa legenda, porém,
Pouco tempo demorou.

Tabuleiro de Areia
Sua próxima inscrição
Nome bem mais expressivo
Mas de pouca duração.
Ibicuipeba, sim,
Ficou muito mais chinfrim
Por sorte não pegou não.

Parecia uma novela
Não se prevendo o final
Mas o destino transforma
Qualquer drama colossal
Depois de tudo, por sorte,
Eis Tabuleiro do Norte.
Esse nome é sem igual!

Terra de grandes valores
E de gente hospitaleira.
Grandes nomes só herdaram
A competência altaneira.
Queremos contribuir
E fazer evoluir
Essa nação brasileira.

Tabuleiro do Norte-Ceará
16 de maio de 2008.
Principal fonte de pesquisa:
MOREIRA E O TABULEIRO
DE TODOS NÓS,
de Jesus Moreira de Andrade

Cordéis

ASSIM NASCEU TABULEIRO DO NORTE Autor: Francinilto Almeida Era o século dezoito Há muito tempo passado O Vale Jaguaribano Era um campo desol...